Empresas de tecnologia entregam pauta a presidenciáveis
Por Gustavo Brigatto | De São Paulo
Em uma iniciativa inédita, três associações que reúnem empresas de tecnologia no Brasil se uniram para apresentar propostas para o desenvolvimento do setor aos candidatos à Presidência da República Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).
No documento são elencadas mais de 50 propostas, divididas em 17 áreas. Entre os itens abordados estão a desoneração tributária para os investimentos e a operação de centros de dados, a simplificação dos Processos Produtivos Básicos (ou PPB, o regime que concede incentivos fiscais à produção de equipamentos no Brasil), a aceitação de propriedade intelectual como garantia para financiamentos bancários e os incentivos à inovação tecnológica, entre outros.
O material, que começa a ser distribuído hoje, foi elaborado pela Associação das Empresas de Software (Abes), pela Federação das Associações de Empresas de Tecnologia da Informação (Assespro) e pela Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom).
Tradicionalmente, cada entidade fazia sua própria lista de pedidos aos candidatos. Desta vez, por iniciativa de associados em comum, elas se conversaram e decidiram fazer uma lista única, mostrando uma coesão nas demandas.
“É um sinal da maturidade e também do peso que o setor assumiu no país. A tecnologia hoje permeia tudo”, disse ao Valor Sérgio Galindo, presidente da Brasscom. De acordo com ele, a ideia é conseguir o apoio de mais entidades do setor para reforçar o coro das demandas.
Além de pedidos, o material inclui os impactos esperados no setor e na economia como um todo. “Também estamos assumindo compromissos”, disse Luís Mário Luchetta, presidente da Assespro.
Com receita anual de R$ 240 bilhões, o setor de tecnologia representa 4,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. São mais de 70 mil empresas que empregam 1,5 milhão de pessoas. Caso as propostas sejam atendidas, a expectativa é que até 2022 a participação do setor na economia chegue a 6% e o número de empregados dobre.
Para Jorge Sukarie, presidente da Abes, enxergar o setor como estratégico é importante para qualquer um dos candidatos à Presidência da República. “O país só voltará a crescer na faixa de 3% ou 4% ao ano se aumentar a produtividade. E para fazer isso é preciso investir em tecnologia”, disse o executivo.
Nos últimos 20 anos, o setor de tecnologia vem sendo beneficiado pelo governo com medidas como os incentivos para a fabricação local de PCs, tablets, smartphones e equipamentos de telecomunicações, além da inclusão na lista de setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamento – que começou como um projeto piloto em 2011 e tornou-se permanente em maio.
As medidas permitiram avanços importantes, mas ainda é preciso fazer mais. “Hoje só um terço das pequenas e médias empresas têm conexão à internet em banda larga e menos de 10% delas usam serviços na nuvem. O processo de registro de propriedade intelectual pode demorar dez anos para ser concluído e há inseguranças com relação ao sistema tributário”, disse Galindo.
A expectativa das associações é marcar, nos próximos dias, encontros com a presidente Dilma e Eduardo Campos. Com Aécio, uma conversa já está programada para o começo de setembro. Dependendo da agenda dos candidatos, também poderá ser marcado um evento que reúna os três de uma só vez – nos moldes do que faz a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Além dos presidenciáveis, os pedidos serão apresentados também a candidatos ao Senado e às Câmara Federal e estaduais. A avaliação é que, com a renovação prevista para os quadros dessas casas, pessoas com mais familiaridade com o mundo da tecnologia (a chamada geração X, que inclui as pessoas nascidas entre os anos 60 e o início dos anos 80) estarão no poder, o que pode acelerar o desenvolvimento de políticas para o setor.
Fonte: Valor Econômico